A definição de recursos e o planejamento da assistência durante a anestesia são fatores essenciais para a prevenção de eventos adversos e segurança das intervenções.^1,2Desta forma, diante da ausência de diretrizes nacionais para atuação do enfermeiro durante a anestesia, a avaliação do perfil de atuação do enfermeiro de centro cirúrgico pode fornecer subsídios para compreender os fatores que influenciam a prática profissional e avaliar as necessidades de formação. 

Avaliar as ações executadas pelo enfermeiro de centro cirúrgico durante a anestesia e analisar o seu conhecimento sobre as práticas anestésicas.

Estudo transversal, realizado com enfermeiros associados da SOBECC entre janeiro a abril de 2019. Para coleta de dados foi enviado aos e-mails dos profissionais, por meio do Sistema Googledocs, um instrumento composto de 38 questões, englobando dados sociodemográficos, prática profissional, conhecimento em anestesia, segurança do paciente e exercício profissional. Os dados foram avaliados por meio do programa R, utilizando o teste de Wilcoxon Mann-Witney para avaliar a relação entre o número de salas sob a responsabilidade do enfermeiro e as atividades assistenciais, além da notificação de eventos adversos. O nível de significância adotado foi 5%.

Participaram da pesquisa 100 enfermeiros, sendo 89% do sexo feminino, idade média de 41 anos, tempo de formação médio de 14 anos e 11 anos de experiência em centro cirúrgico, com maior atuação na região sudeste (47%). Entre os participantes, 48% possuíam cargo assistencial, 62% eram especialistas em centro cirúrgico e 77% atuavam em sala cirúrgica, principalmente no turno integral de trabalho (55%). A média de salas sob responsabilidade do enfermeiro foi de 4,7 salas, sendo que 49% dos enfermeiros entravam em todas as salas de cirurgia antes da indução e 39% durante a indução anestésica e 42% entravam em sala na reversão anestésica apenas quando solicitados pela equipe. A execução de atividades simultâneas assistenciais e gerenciais (72%), e o quadro de funcionários insuficiente (57%) destacaram-se como os principais fatores de limitação para assistência do enfermeiro durante a anestesia. Os participantes citaram a conferência da identificação do paciente (85%) e posicionamento cirúrgico (79%) como atribuições fundamentais do enfermeiro na indução. Já na reversão da anestesia os enfermeiros indicaram a realização da SAEP (85%) e passagem de plantão do paciente para unidade de destino (75%). Acerca do conhecimento sobre anestesia, 77% dos enfermeiros citaram os períodos da anestesia geral, 52% os tipos de anestesia geral e 84% as anestesias regionais. Em relação aos sistemas de notificação de eventos adversos, 87% dos enfermeiros referiram que suas instituições de trabalho possuíam um sistema, mas 43% não realizavam a notificação devido a sobrecarga de trabalho e 25% dos profissionais não acreditavam que a notificação geraria melhorias. A análise inferencial dos dados mostrou evidência mais forte de que os enfermeiros que acreditam ser responsáveis pelo preparo do material para o procedimento anestésico são responsáveis por menos salas em média (p=0,04), bem como os profissionais que têm medo de punição ao notificar um evento adverso (p=0,02).

Os enfermeiros identificaram seu papel na equipe durante o procedimento anestésico, mas encontram dificuldades para gerenciar as atividades diárias, motivado entre outros motivos pela limitação no quantitativo de pessoal. Por outro lado, os participantes apresentaram conhecimento deficiente sobre os períodos e tipos de anestesia geral, revelando a importância de qualificação profissional e educação permanente.