O acidente de trabalho por exposição a material biológico constitui uma constante preocupação para as instituições e trabalhadores da área de saúde, pois o ambiente hospitalar favorece a ocorrência desse evento, principalmente devido à elevada frequência de procedimentos invasivos, intensidade e dinâmica de trabalho. A assistência cirúrgica é complexa e envolve várias etapas críticas, destacando-se as atividades desenvolvidas pela equipe multiprofissional que atua na área. Entre 2002 e 2016 foram registrados 14.078 acidentes biológicos no Sistema de Vigilância de Acidente de Trabalho com Material Biológico em Serviços de Saúde do Brasil . A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que a cada ano ocorram três milhões de exposições percutâneas sofridas pelos profissionais de saúde, expondo-os aos patógenos capazes de causar Hepatites e Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (AIDS). Para prevenir acidentes típicos envolvendo material perfurocortante com risco biológico, é necessário que o profissional faça uso de barreiras de proteção e se conscientize a respeito da biossegurança, e que as instituições hospitalares sejam munidas de processos eficientes, organizados e economicamente viáveis, com foco na melhor assistência ao paciente, segurança e qualidade de vida no ambiente de trabalho do profissional.

Implantar instrumento prático, de baixo custo, com capacidade de armazenar material perfurocortante em campo estéril durante a cirurgia no Bloco Cirúrgico de um hospital extra porte localizado no estado de São Paulo, SP, Brasil, com intuito de reduzir os acidentes percutâneos com risco biológico.

Foi realizado um estudo retrospectivo dos acidentes ocupacionais notificados ao SESMT (Serviço Especializado em Engenharia de Segurança e em Medicina do Trabalho) entre janeiro e novembro de 2004. Os dados coletados foram estratificados por tipo e causa: trauma e biológico. Após a análise dos dados, a média de acidentes percutâneos com risco biológico foi de 2,33 acidentes por mês, tendo como principal causa o descarte inadequado dos perfurocortantes na mesa cirúrgica. Diante deste cenário, o comitê gestor do Centro Cirúrgico (CC) necessitou implantar uma ação a curto prazo para otimizar o descarte dos perfurocortantes, melhorar a prática de enfermagem e reduzir os acidentes biológicos no ambiente cirúrgico. Em dezembro do mesmo ano, foi padronizado o uso da caixa imantada estéril e descartável, específica para descarte dos perfurocortante em campo cirúrgico gerado no intraoperatório. A implantação do dispositivo foi dividida por etapas: 1º Divulgação para equipe médica; 2º Treinamento da equipe de enfermagem; 3º Inclusão da caixa imantada no material do Centro de Material e Esterilização (CME) enviado para sala operatória.

A comparação dos acidentes ocupacionais notificados ao SESMT entre 2004, antes da implantação da caixa imantada, até 2018, período pós-implantação da caixa imantada, evidenciou redução da média de acidentes percutâneos com risco biológico por mês de 2,33 para 0,37. No decorrer dos anos, desde a implantação da caixa imantada até o presente momento, a caixa passou por ajustes para melhor atender a especificidade cirúrgica e ampliar o objetivo, prevenindo também a retenção não intencional intracavitário de perfurocortantes, garantindo a segurança do paciente.

A implantação da caixa imantada para descarte de perfurocortante intraoperatório, o treinamento da enfermagem e o envolvimento da equipe multiprofissional possibilitou a redução dos acidentes biológicos no CC, e tornou-se uma ferramenta indispensável e estratégica para a excelência operacional e segurança do paciente.