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14 Congresso Brasileiro de Enfermagem - 2019 - ISSN N 2317-996X
Resumo: 204-5

Poster (Painel)


204-5

Reutilização do detergente enzimático: impacto da contaminação microbiana na limpeza de gastroscópios

Autores:
Maria Letícia de Miranda Mati1, Luiz de Macêdo Farias2, Naiara Bussolotti Garcia1, Adriana Cristina de Oliveira1
1 NEPIRCS / EEUFMG - Núcleo de Estudos e Pesquisas em infecções Relacionadas ao cuidar em saúde - Escola de enfermagem - Universidade Federal de Minas Gerais, 2 MOA ICB/UFMG - Laboratório de Microbiologia Oral e Anaeróbios do Departamento de Microbiologia do Instituto de Ciências Biológicas da Universidade Federal de Minas Gerais

Resumo:
INTRODUÇÃO

Falhas associadas ao processamento de endoscópios gastrointestinais têm sido apontadas como principais causas de surtos e transmissão de microrganismos, após uso desses equipamentos, em todo mundo(1). No processamento desses equipamentos, recomendações de sociedades e associações nacionais e internacionais devem ser seguidas, destacando-se a não reutilização do detergente enzimático (DE), empregados na limpeza desses dispositivos, sob pena da perda da eficiência da ação desse produto(2). Contudo, sabe-se que na prática clínica tal solução é reutilizada por diversas vezes para imersão de diferentes endoscópios, sobretudo em países em desenvolvimento e com escassos recursos financeiros, o que pode comprometer a eficácia do processamento desses dispositivos, uma vez que DE não possui propriedade bactericida(3).



OBJETIVOS

Avaliar o impacto da contaminação microbiana da solução de detergente enzimático, quando reutilizada, na efetividade da limpeza de endoscópios gastrointestinais.



MÉTODO

Estudo transversal realizado a partir da análise microbiológica dos canais de ar/água e biópsia de equipamentos endoscópicos, antes e após imersão na solução de DE. Desta solução, foram coletadas três alíquotas (antes e após a primeira utilização e a terceira reutilização) diretamente do recipiente onde estavam armazenadas, cujo volume total era 20 litros. As alíquotas coletadas a partir dos canais de ar/água e de biópsia dos aparelhos e da solução de limpeza foram homogeneizadas e submetidas a filtração em membrana Millipore® de 0,45μm e, sobrepostas em meio de cultura Ágar Tríptico de Soja. Procedeu-se a análise quantitativa dos microrganismos e sua identificação presuntiva dos microrganismos foi realizada por métodos bioquímico-fisiológico.



RESULTADOS

A carga microbiana recuperada da solução do detergente enzimático foi crescente proporcionalmente ao seu número de reuso, 153 UFC/mL (3,06 x106 UFC/mL no volume total da solução) e após o terceiro uso 315 UFC/mL (6,3x106UFC/mL) respectivamente. Após imersão do aparelho endoscópico no primeiro uso do DE houve elevação da carga microbiana no canal de biópsia em 33,8% quando comparada à encontrada antes da imersão. Os canais de ar/água e biópsia do aparelho imerso no terceiro reuso do detergente apresentaram aumento da contaminação microbiana em 17,5% e 10,5%, respectivamente. No canal de ar/água imerso no primeiro uso do detergente enzimático, não foi isolada antes da imersão Pseudomonas ssp. Entretanto, tal microrganismo foi recuperado em todos os canais dos aparelhos endoscópicos analisados após a imersão em DE e em todas as alíquotas do detergente, exceto naquela coletada antes do uso do produto, onde não houve crescimento bacteriano.



CONCLUSÃO

Este estudo aponta o risco do reuso do detergente enzimático, uma vez que existe a possibilidade do aumento da carga microbiana no equipamento e da contaminação dos aparelhos endoscópicos com microrganismos que não haviam sido recuperados antes da imersão no detergente. A reutilização do detergente enzimático é uma realidade nos países subdesenvolvidos e em desenvolvimento, onde os serviços são, geralmente, limitados ao processamento manual e a adesão aos protocolos estabelecidos podem ser insuficientes. Os achados desse estudo trazem evidências do risco atribuído ao reuso de soluções de limpeza como potenciais focos de surtos relacionados a procedimentos endoscópicos, reforçando que, quando uma ou mais etapas do processo de limpeza não é efetiva, todo o processamento poderá estar em risco, comprometendo a segurança do paciente.



Palavras-chave:
 detergentes, endoscópios, Segurança do paciente