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14 Congresso Brasileiro de Enfermagem - 2019 - ISSN N 2317-996X
Resumo: 204-4

Poster (Painel)


204-4

Reutilização do detergente enzimático no processamento de gastroscópios: uma fonte de contaminação.

Autores:
Maria Letícia de Miranda Mati1, Luiz de Macêdo Farias2, Paula Prazeres Magalhães2, Natalia Rocha Guimarães2, Naiara Bussolotti Garcia1, Adriana Cristina de Oliveira1
1 NEPIRCS / EEUFMG - Núcleo de Estudos e Pesquisas em infecções Relacionadas ao cuidar em saúde - Escola de enfermagem - Universidade Federal de Minas Gerais, 2 MOA ICB/UFMG - Laboratório de Microbiologia Oral e Anaeróbios do Departamento de Microbiologia do Instituto de Ciências Biológicas da Universidade Federal de Minas Gerais

Resumo:
INTRODUÇÃO

Os aparelhos gastroscópios são equipamentos que despertam uma grande preocupação quanto ao processamento. Utilizados durante o exame de endoscopia digestiva, têm as superfícies expostas a elevada carga microbiana a partir do seu contato com o trato gastrointestinal, o que torna necessário uma descontaminação adequada após cada procedimento(1). Um dos produtos amplamente utilizados no processamento desses equipamentos é o detergente enzimático (DE). Este, tem como função a desagregação da matéria orgânica dos dispositivos após o uso clínico. A sua reutilização durante a limpeza dos aparelhos endoscópicos é expressamente desaconselhada por instituições, associações e sociedades nacionais e internacionais sob pena da perda da eficiência(2). Entretanto, sabe-se que na prática clínica tal solução tem sido reutilizada por diversas vezes para imersão de diferentes equipamentos. São escassos os estudos que abordam a eficiência da solução reutilizada, sendo encontrado algumas vezes aqueles que apontam que o reuso do DE pode contribuir para a recontaminação dos equipamentos(3). Assim, questiona-se: A carga microbiana presente e o perfil microbiológico recuperado na solução de detergente enzimático, a partir da sua reutilização, durante a limpeza manual de aparelhos endoscópicos gastrointestinais, podem comprometer a efetividade do processamento?



OBJETIVOS

Avaliar a potencial contaminação do DE a partir de seu reuso e identificar o perfil microbiológico na solução utilizada na limpeza de aparelhos endoscópicos gastrointestinais.



MÉTODO

Estudo transversal, realizado a partir da análise microbiológica de 19 diferentes amostras de DE, utilizadas na limpeza de aparelhos endoscópicos. De cada solução, foram coletadas quatro alíquotas: antes do primeiro uso, após o primeiro, terceiro e quinto reuso, visando avaliar o potencial de contaminação da solução e as possíveis alterações do perfil microbiológico ao longo dos diferentes reusos. Totalizaram-se 76 alíquotas analisadas. As alíquotas foram homogeneizadas, submetidas a filtração em membrana Millipore® 0,45μm e a identificação presuntiva dos microrganismos foi realizada por métodos bioquímico-fisiológico, conforme grupos bacterianos específicos previamente estabelecidos e que apresentam importância clínica e epidemiológica. Para análise dos dados, foi utilizado distribuição de frequência e medidas de tendência central. As diferenças entre as médias dos diferentes reusos da solução de DE foram avaliadas por meio do teste de Bonferroni. Para a mediana foram realizados o teste de Mann Whitney e testes não paramétricos.



RESULTADOS

Os valores médios, assim como o desvio-padrão e a mediana, da carga microbiana do DE foram crescentes à medida que a solução foi reutilizada.  Considerando que as alíquotas (1 mL) analisadas faziam parte de uma solução de DE, cujo volume total era 20 litros, encontrou-se em cada vasilhame do produto após a primeira utilização da solução, uma carga microbiana média de 3,99x105 UFC/solução, alcançando uma média de 1,34x106 UFC/solução depois do quinto reuso. O teste de Bonferroni mostrou diferença significativa entre as médias encontradas após primeiro uso e após quinto reuso (valor-p de 0.011). Esse resultado foi confirmado pelos testes não paramétricos da mediana (valor-p de 0.023) e Mann Whitney (valor-p de 0.004). Foram identificados 97 microrganismos, com predomínio dos gêneros Staphylococcus coagulase negativa, Pseudomonas spp., Klebsiella spp., Enterobacter spp., e da espécie Escherichia coli.



CONCLUSÃO

O reuso da solução de DE constitui um risco ao processamento seguro destes equipamentos endoscópicos, evidenciado neste estudo pela sua contaminação com microrganismos que apresentam potencial patogênico. O DE não possui propriedade bactericida e pode contribuir como fonte importante para surtos em pacientes submetidos a tais procedimentos.



Palavras-chave:
 Controle de infecção, Detergentes, Endoscópios, Microbiologia, Segurança do paciente