INTRODUÇÃO
A adoção do checklist cirúrgico proposto pela Organização Mundial da Saúde (OMS), com o intuito de despertar as equipes cirúrgicas para etapas simples da assistência e favorecer a comunicação multiprofissional visando à redução de eventos adversos em cirurgias1, nem sempre tem sido capaz de atingir o seu objetivo. Barreiras à sua implementação efetiva como capacitação insuficiente dos profissionais e falhas na sua adaptação à realidade local têm implicado na ausência de melhorias na segurança do paciente2. Além disso, o uso de indicadores relacionados apenas à completude do checklist pode não permitir uma avaliação em profundidade dos gaps que demandam aperfeiçoamento, sendo fundamental a realização de auditorias ou o uso de indicadores de processos3 para uma real avaliação do seu impacto clínico.
OBJETIVOS
Avaliar se a completude do checklist corresponde à sua real adesão em um hospital universitário.
MÉTODO
Tratou-se de um estudo transversal conduzido no centro cirúrgico de um hospital público e universitário de Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil, aprovado pelo comitê de ética em pesquisa. Foram selecionados procedimentos eletivos de várias especialidades com duração superior a uma hora. Para a coleta de dados, um instrumento foi elaborado com base no checklist da OMS utilizado e adaptado para a instituição. Um pesquisador monitorou os procedimentos cirúrgicos da entrada à saída do paciente na sala operatória com o intuito de observar a adesão aos seus itens nos distintos momentos. Ao final da cirurgia, realizou-se a comparação entre os itens aderidos/executados por meio da observação e aqueles preenchidos no impresso manual pelo circulante de sala. Os dados foram analisados de forma descritiva no Statistical Package for the Social Sciences.
RESULTADOS
Foram monitoradas 100 cirurgias. Quanto à completude do checklist, observou-se que 65% desses estavam completamente preenchidos, no entanto, em nenhum deles constatou-se sua condução total na prática. Em relação à execução do checklist na “entrada” destacou-se a não conferência na identificação do paciente em 35% dos procedimentos, porém identificou-se um preenchimento em 100% dos checklists. Na “pausa cirúrgica”, evidenciou-se que em 4% dos procedimentos foi realizada a confirmação da disponibilidade de equipamentos contrapondo-se a um preenchimento nesse item em 97% dos instrumentos. Por fim, na etapa da “saída” a adesão à contagem de instrumentais/compressas se deu em 10% das cirurgias, de forma oposta a um preenchimento de 90%. O destaque de adesão e conferência se deu para “confirmação da esterilidade dos equipamentos” em sua totalidade. O técnico de enfermagem foi o responsável pelo preenchimento do checklist em todas as cirurgias assistidas e pela sua condução verbal em 92%. Observou-se o trabalho em equipe em 32% dos procedimentos, com a realização correta da “pausa cirúrgica” envolvendo o técnico de enfermagem, equipes cirúrgica e anestésica.
CONCLUSÃO
O presente estudo demonstrou que a completude do checklist não correspondeu à sua adesão na prática clínica no campo estudado e, a sua utilização não denotou uma comunicação eficiente entre as equipes multidisciplinares que integram o cuidado cirúrgico, comprometendo, assim, a sua efetividade. Para ampliar a adesão ao uso efetivo do checklist, sugere-se que as instituições consolidem a cultura de segurança e invistam na adaptação do checklist ao seu serviço, no treinamento da equipe multiprofissional envolvida e em auditorias periódicas.